Atiradores teriam entrado em outro prédio antes de invadir revista.
Mulher que estava na sala de reunião foi poupada, segundo 'Le Monde'.
O jornal francês "Le Monde" publicou nesta quinta-feira (8) uma
reportagem com base em depoimentos de sobreviventes sobre o passo a
passo da ação dos atiradores no ataque à redação do jornal "Charlie
Hebdo", em Paris.
Ao todo 12 pessoas morreram no ataque: oito funcionários do jornal –
entre eles quatro cartunistas –, um funcionário do edifício, um
convidado da redação e dois policiais. O jornal publicou ainda uma foto
do corredor da redação com várias manchas de sangue.
De acordo com a reportagem, os homens entraram primeiro em um prédio vizinho perguntando se ali era a sede do Charlie Hebdo.
Desde os bombardeios de 2011 e após inúmeras ameaças de morte
recebidas, a equipe do jornal mantém o endereço da redação em sigilo.
Eles chegaram a pedir à vizinhança que não revelasse o local.
Veja a sequência dos acontecimentos, segundo o 'Le Monde':
– Pouco depois das 11h locais desta quarta-feira (7), dois homens
armados vestidos de preto e usando coletes chegam ao número 6 da rua
Nicolas-Appert, a duas portas do prédio da revista "Charlie Hebdo".
Eles se aproveitaram da chegada de um carteiro ao edifício para entrarem
no local.
– Já na recepção deste primeiro edifício, os homens perguntam se é ali a
"Charlie Hebdo". Em seguida, um dos homens dispara uma bala que passa
pela porta de vidro de um escritório.
– Os homens, então, se dão conta de que estão no prédio errado e saem.
Eles vão até o número 10 da mesma rua, local da redação de "Charlie
Hebdo" desde 1 de julho de 2014. No momento da invasão acontece uma
reunião de pauta entre a equipe do semanário.
Le Monde mostra foto do interior da 'Charlie Hebdo'
após o ataque (Foto: Reprodução/Le Monde)
após o ataque (Foto: Reprodução/Le Monde)
– No hall do prédio, os homens cruzam com dois funcionários da
manutenção. Antes de atirar e matar um deles, Frédéric Boisseau, de 42
anos, eles perguntam se é ali a sede da revista.
– Na escada, eles encontram a cartunista Corinne Rey, conhecida como
Coco, que eles fazem de refém. Ela tenta enganar os homens levando-os ao
terceiro andar. A redação, onde acontece a reunião de pauta, fica no
segundo andar do prédio.
– No segundo andar, os dois assaltantes encontraram outro homem e o
ameaçam com a arma antes de repetir a pergunta "Onde é o Charlie Hebdo?”
– Por fim, os atiradores chegam à redação. Com uma arma apontada na
cabeça, Coco é obrigada a inserir o código de segurança na porta que dá
acesso à sala.
– A reunião havia começado há quase uma hora. Estavam na sala de
reunião em volta de uma mesa oval o editor-chefe e cartunista Stéphane
Charbonnier (Charb), os cartunistas Jean Cabu, Georges Wolinski, Bernard
Verlhac (Tignous), Philippe Honoré e Riss, os jornalistas Laurent
Léger, Fabrice Nicolino e Philippe Lançon, o economista Bernard Maris e
as colunistas Sigolène Vinson e Elsa Cayat. Outras pessoas trabalhavam
na sala principal da redação.
– Os atiradores encapuzados chamaram o nome de Charb e atiraram nele.
Em seguida, chamaram os apelidos dos outros cartunistas e abriram fogo
aos gritos de "Allahou akbar" e "Vocês vão pagar por insultarem o
Profeta". Sete pessoas foram mortas na sala de reunião: Charb, Cabu,
Wolinski, Tignous, Honoré, Bernard Maris e Elsa Cayat.
Entre
os mortos no ataque estão Bernard Marris, Georges Wolinski, Jean Cabu,
Stéphane Charbonnier, Bernard Verlhac (Tignous) e Philippe Honoré (Foto:
AFP)
– Segundo o "Le Monde", os atiradores ainda colocaram a arma na cabeça
de Sigolène Vinson e disseram: “Você não vamos matar porque não matamos
mulheres, mas você vai ler o Alcorão”. Ela não se feriu. Outras três
pessoas da reunião ficaram feridas: Philippe Lançon, no rosto, Riss, no
ombro, e Fabrice Nicolino, na perna.
– Em seguida, os invasores atiraram em pessoas que estavam na redação.
Mataram Michel Renaud, que visitava o jornal, e Mustapha Ourrad, revisor
da publicação que tinha conseguido a cidadania francesa há algumas
semanas. Eles feriram ainda o editor de mídias sociais Simon Fieschi. A
cartunista Corinne Rey se escondeu debaixo de uma mesa e não foi
atingida.
– Na saída, os atiradores mataram o policial Franck Brinsolaro, que fazia a segurança de Charb.
– Já na rua Richard-Lenoir, atiraram em outro policial, Ahmed Marebet.
Ele caiu no chão e foi novamente atingido na cabeça por um dos
atiradores (vídeo ao lado com IMAGENS FORTES).
– Em seguida, os atiradores retornam ao veículo sem qualquer sinal de
pânico. Um deles ainda leva um tempo para pegar algo no chão antes de se
sentar no banco do passageiro. Eles fogem e deixam o carro Citroën
preto em uma rua, onde renderam o motorista de um Renault Clio cinza que
roubaram para fugiram.
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