O Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas aprovou nesta
sexta-feira a primeira resposta da comunidade internacional para a
guerra civil na Síria, uma resolução sobre a destruição das armas
químicas desse país, que adverte o governo sobre consequências se não
cooperar com o processo.
Mais de dois anos e meio depois do início da guerra civil na Síria, o
CS superou hoje o bloqueio sofrido durante todo o conflito e votou sua
primeira resolução sobre uma tragédia que já matou mais de 100 mil
pessoas.
Os 15 membros do principal órgão de decisões da ONU aprovaram por
unanimidade uma resolução proposta por Estados Unidos e Rússia, que
condena pela primeira vez o uso de armas químicas na Síria, e adverte o
regime do presidente Bashar al Assad que haverá "consequências" se não
cooperar com o desmantelamento de seu arsenal.
Depois da votação, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chamou de
"histórica" a resolução aprovada pelo CS, mas lembrou aos seus membros
que o "catálogo de horrores" da Síria continua "enorme", por isso pediu o
fim imediato da violência.
Ban fez um novo pedido às autoridades sírias e à oposição rebelde - e
ao restante dos atores com poder de influência no país -, para que "em
meados de novembro" se sentem à mesa para negociar a paz em uma
conferência internacional em Genebra, proposta no mês de maio por
Washington e Moscou, mas que até agora não aconteceu.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse
após a votação que o regime de Bashar al Assad deu um primeiro passo ao
anunciar que aceitava submeter seu arsenal químico ao controle
internacional e destacou que a resolução aprovada hoje "não permite
nenhum uso automático da força" no caso de seu descumprimento.
Apesar de os EUA e seus aliados terem defendido um texto que
invocasse o Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que regula a
imposição de sanções e inclusive o uso da força autorizado pela ONU, no
final, a Rússia conseguiu seu objetivo e uma intervenção militar estará
sujeita à aprovação de uma segunda resolução.
O secretário de Estado americano disse que a resolução "vinculativa"
tem como principal meta acabar com o arsenal químico da Síria, "através
de meios pacíficos", e advertiu que "haverá consequências" se o país não
cooperar com o processo de desmantelamento, que será concluído em
meados de 2014.
Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido,
William Hague, lembrou que a resolução chega após dois anos e meio de
"brutalidade", com milhares de mortos e milhões de refugiados em um país
onde a cultura da impunidade continua "imperando".
A França considerou o desbloqueio do CS como um passo "histórico",
mas lembrou que "todas as provas" do ataque químico do dia 21 de agosto
nos arredores de Damasco "indicam a responsabilidade do regime de
Assad", e pediu que os responsáveis sejam levados à Justiça.
A votação aconteceu menos de duas horas depois que a Organização para
a Proibição das Armas Químicas (Opaq) aprovou, por consenso, seu plano
para a eliminação do arsenal químico sírio, que prevê o envio de
inspetores nos próximos dias e a destruição total de todas as armas
químicas da Síria na primeira metade de 2014.
O plano se incorpora à resolução aprovada pelo CS e detalha o
processo para acabar com as armas químicas da Síria, com base no acordo
alcançado por Estados Unidos e Rússia, em resposta ao ataque registrado
de 21 de agosto no subúrbio de Damasco, no qual, supostamente, morreram
mais de 1,4 mil pessoas.
Pouco antes, o secretário-geral da ONU se reuniu com o mediador
internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, e com os representantes dos
cinco membros permanentes do CS para continuar com os preparativos para
a conferência de paz de Genebra.
Enquanto isso, no Oriente Médio, os inspetores da ONU continuam suas
investigações na Síria de denúncias "críveis" sobre o uso de armas
químicas no país, inclusive a de 19 de março em Khan al Assal,
denunciada pelo regime de Bashar al Assad.
O porta-voz da ONU, Martin Nesirky, confirmou pela primeira vez que a
missão liderada pelo professor sueco Ake Sellström vai averiguar, além
disso, uma denúncia dos Estados Unidos de um ataque com armas químicas
cometido no dia 13 de abril.
O porta-voz acrescentou que na próxima semana encerrarão sua visita e
depois vão elaborar um relatório final que estará pronto no final de
outubro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário